Texto: I Sm.17-50 Davi é reconhecido como um dos maiores reis de toda a história judaica, mas
como exemplo negativo de chefe de família. Teve vários desgostos pessoais com
seus filhos. Por não dedicar tempo a eles e nem querer ouvi-los em momentos
difíceis de suas vidas, mas pelo menos uma virtude tem que ser destacada na
vida dele: Ele ensinou a vencermos os gigantes!
Gigantes que sempre estão de volta na nossa vida. Golias depois de morto, seus irmãos apareceram. Entenda que sozinhos se torna difícil vencer. Gigantes que falamos são os grandes problemas que aparecem na nossa vida. Muitas vezes iremos precisar da ajuda dos irmãos, dos amigos e da família. Quando se tem em mente um gigante, a visão é de alguém ou algo muito poderoso
e muito forte e até com aparência invencível. Ao que tudo indica, o cristão
já está acostumado a se deparar com esse tipo de coisa.
No decorrer de toda nossa vida, nos deparamos com gigantes que já parecem
vitoriosos mesmo antes de agirem. Tamanha é a fúria com que atacam. São os
problemas próprios do dia a dia, como dificuldades financeiras, desemprego,
doenças, violência, e instabilidades. Por isso, os piores “gigantes” são os
que residem dentro do próprio homem.
Existem ainda, e muitos perigosos os “gigantes espirituais” que procuram por
todos os meios manter o homem escravizado no pecado e também desviar o crente
dos caminhos do Senhor (Jo.1010; Lc.8.13). É claro que quando se fala em
“gigantes” está se usando uma simbologia, que aliás, é muito própria para
identificação dos problemas que se abatem sobre o homem e, em particular
sobre os crentes em Jesus.
Observe que Davi não parou no meio da batalha, e sim avançou para conquistar
a sua vitória. É isso que o crente deve fazer também, não fugir da luta, nem
demonstrar receio, mas partir para a batalha sabendo que o Senhor estará com
ele nessa peleja.
Essa história todos nós conhecemos muito bem. No entanto, outros “gigantes”
apareceram para atormentar a vida de Davi, e a esses ele não conseguiu
vencer.
Houve um dia que chegou a crise... e Davi fracassa!. E arrasta atrás de si,
uma crise sem igual. Por causa de seu adultério e assassinato, começa o maior
desastre de toda a sua vida, junto dele, sua família, e seu reino, sofrem
terríveis consequências. A nação mergulha numa grave instabilidade
governamental e seu reino quase vai a nocaute! É interessante que os
“gigantes” que foram mortos por Davi e seus guerreiros eram fortes e bem
armados, porém visíveis. Era possível vê-los a longa distância, fortes, corajosos
e bem armados, e como planejavam as suas estratégias de guerra, dessa maneira
ninguém poderia ignorar a sua existência!.
Só que os “gigantes” que estão matando muitos crentes, nem sempre podem ser
identificados de imediato, costumam se apresentar sem “aparência”, com
sapatinho de lã, e com cara de “ingenuidade”, mas que caminham velozmente em
nossa direção para nos abater, e nos destruir!.
Vejamos então os cinco “gigantes” que o rei Davi não conseguiu matar, pois
eram na verdade, desejos e pecados que residiam no seu íntimo, e que
predominaram e marcaram toda a trajetória da sua vida. Quando esses
“gigantes” se instalam no coração de qualquer ser humano, é porque ele já não
ouve mais a voz de Deus, e sim a voz do nosso pior adversário!. É porque deixou
que predominasse o orgulho, o egoísmo, e a rebeldia, que são verdadeiras
investidas do diabo para nos derrubar. Nesses casos a queda é simplesmente
fatal!
O PRIMEIRO GIGANTE: A TENTAÇÃO
A tentação pode ser considerada como um teste difícil, uma provocação ou
uma prova que se tem de transpor e sair vitorioso. No aspecto espiritual, é
uma tentativa satânica a fim de levar o homem a cometer atos que desagradem a
Deus, e em seguida aprisioná-lo nas malhas diabólicas.
Em 2 Sm. o capítulo 11 registra a tentação, o pecado e a queda trágica de
Davi. Ao invés de ir adiante do seu exército na batalha, conforme fizera
antes, Davi ficou em Jerusalém. Foi tomado de uma indolência que não demorou
a levá-lo ao colapso moral e espiritual. Sua vida de conforto e luxo como rei
desenvolveu nele a auto confiança e a imoderação. Foi nesse tempo, que ele
deixou de ser homem segundo o coração de Deus ( I Sm. 13.14).
Davi, deste modo, caindo da graça (Gl.5.4), faz-nos uma séria advertência a
todos os crentes: “Aquele , pois, que cuida estar de pé, olhe que não caia”
(I Co. 10.12).
Esse relato do pecado de Davi demonstra até onde pode cair uma pessoa que se
desvia de Deus e da orientação do Espírito Santo. Ao mandar eliminar Urias e
tomar a sua esposa, Davi estava desprezando a Deus e a sua palavra (2 Sm.
12-9.10). Embora Davi tenha se arrependido dos seus pecados e recebido o
perdão da parte de Deus, as consequências disso não foram eliminadas por
Deus. Significa que mesmo restaurado o nosso relacionamento com Deus, não
quer dizer que escaparemos do castigo temporal, nem que ficaremos isentos das
consequências dos pecados específicos (vs. 10.11.14).
Deus não deixou passar, nem desculpou os pecados de Davi, sob o pretexto dele
ser um mero ser humano; que os seus pecados eram simples fraquezas ou falhas
humanas, ou que ele, como rei, teria o direito natural de recorrer à
injustiça e à crueldade.
O SEGUNDO GIGANTE: O ADULTÉRIO
O capítulo 11 de 2 Samuel, começa com a narrativa dos problemas de Davi e
revelam a falha, o lado humano desse homem essencialmente devoto. Davi é
perturbado com a tentação quando vê Bate-Seba se banhando à tarde em seu
próprio pátio. Alguns teólogos tem tentado caracterizar Bate-Seba como uma
sedutora. Mas o texto sugere que ela não teve culpa no episódio do adultério
do rei. Observe. “Davi como rei devia estar na guerra. Bate-Seba estava
banhando-se depois que Davi fora se deitar, ela estava em seu próprio pátio,
e somente só podia ser vista do terraço do palácio.
VIU ... A UMA MULHER (2Sm.11.2).
Davi tomou a iniciativa de procurar saber que era ela. Davi mandou chamá-la.
Como uma mulher sozinha, não havia como rejeitar as ordens de um rei, que, no
antigo Oriente tinha o poder de vida e morte. Agora grávida, depois do seu
encontro com o rei, Davi começa a planejar uma saída. A gravidez de Bate-Seba
revelaria seu adultério, já que seu marido tinha estado fora durante toda a
primavera. Tendo em vista que Urias se recusou a ir para sua casa, a única
maneira de Davi proteger seu nome era mandar matar Urias imediatamente.
Ele então poderia casar-se logo com Bate-Seba, e sua gravidez não causaria
mais nenhuma dificuldade. Assim, Davi planejou a morte “acidental” de Urias,
a fim de proteger-se a si mesmo. Para encobrir seu pecado de adultério, Davi
matou um homem inocente, valente e digno de confiança. Os pecados que Davi
estava cometendo eram: adultério, homicídio a sangue frio e o encobrimento
hipócrita de tudo, de fato, um mal horrendo aos olhos de Deus. Davi se
tornara réu da quebra do sexto, sétimo, oitavo, nono e décimo mandamentos
(Ex. 20.13-17). Seus pecados eram ainda mais graves, porque ele era pastor do
povo de Deus e responsável pela administração da justiça e da retidão em
Israel (2Sm.8.15).
O pecado de Davi foi perdoado por Deus, visto que a pena de morte e a
condenação eterna foram suspensas (I Jo.3.15). Deste modo, Davi foi
restaurado à salvação e à comunhão com Deus. Apesar disso, sua reputação
ficou maculada de modo permanente, e os efeitos do seu pecado continuaram
pelo resto da sua vida e da história da sua família.
A experiência de Davi, uma vez perdoado e restaurado, é uma séria lição para
quem pensa que o pecado é algo banal; algo que Deus simplesmente perdoa e
esquece. Em 2 Sm.12.10 lemos assim: “Não se apartará a espada jamais da tua
casa”. Deus julgou Davi e a sua família, sob a forma de violência, conflito e
homicídio (isto é, a espada) pelo restante da sua vida, esse julgamento durou
aproximadamente vinte e cinco anos!.
O TERCEIRO GIGANTE: A MALÍCIA.
A malícia é uma tendência para o mal que não se expressa à primeira vista. A
malícia, inicialmente, fica encoberta e passa despercebida. A pessoa maliciosa
maquina o mal em seu coração e suas ações são sutis, como se fossem uma teia
para envolver a pessoa que se encontra em sua mira. È obra da carne (Gl.
5.19.20), assim sendo é contraditória à vontade de Deus.
A malícia representa uma tendência vigorosa para o mal, má índole, esperteza,
astúcia, habilidade para enganar, artimanhas, falsidade, intenção maldosa, e
fingimento.
A Bíblia registra casos de várias pessoas que, usando de má fé, malícia ou
astúcia conseguiram concretizar seus desejos. Mas para todos os casos, o
resultado foi a reprovação de Deus e consequentemente o Seu juízo. A fraqueza
é própria da natureza humana. Citemos o caso do rei Davi que era um homem
segundo o coração de Deus (I Sm. 13.13-14). Coisas grandes iniciam-se
pequenas, e o pecado cauteriza a mente do homem!.
Dessa forma, Davi tentou legitimar a gravidez de Bate-Seba, concedendo ao
marido uns dias de licença para que ele estivesse com ela na sua intimidade.
Mas o fiel guerreiro preferiu não se furtar ao dever, pensando não ser
correto ele descansar enquanto outros soldados arriscavam a vida pelo reino.
Dessa forma, não foi para a sua residência. Preferiu ficar montando guarda no
palácio.
Percebendo a dedicação de Urias e tentando não deixar transparecer sua
malícia, Davi agiu como se estivesse enviando o guerreiro de volta ao campo
de batalha. Desta vez, o próprio Urias levava ao general Joabe uma carta do
rei que ordenava a execução de um plano para matar o seu fiel e valente
guerreiro. Urias levava a sua própria e injusta condenação!.
Ao receber a carta, o general não fez perguntas nem mesmo comentários. Tratou
de obedecer irrestritamente a ordem do rei, como era de costume. E inventando
um esquema especial a fim de satisfazer o pedido do rei, colocou Urias e
outros homens ao alcance dos arqueiros inimigos. O plano de Davi acabou dando
certo.
Em I Jo. 3.12-15 lemos assim a palavra de Deus: ”Qualquer que aborrecer a seu
irmão é homicida. E vós sabeis que nenhum homicida tem permanente nele a vida
eterna”. Davi poderia ter restaurado a sua comunhão com o Senhor através do
arrependimento sincero, de todo o coração, mas não teve forças para isso(Sl.
51).
O QUARTO GIGANTE: O ORGULHO.
O orgulho em algumas situações, pode ser considerado como um sentimento de
dignidade, de auto confiança pessoal, brio, altivez, principalmente quando é
vivido em um grau de satisfação e felicidade por algo conquistado. O orgulho
é considerado pecaminoso pela Bíblia, ou melhor, pelo próprio Deus. Traduz o
conceito elevado ou exagerado de si próprio; o amor próprio em demasia que
leva à soberba, isto é, um orgulho exagerado; também considerado como
arrogância, insolência e brutalidade.
Deus permitiu que Satanás tentasse Davi, após ter realizado muitos feitos e
obtido grandes vitórias (2 Sm. 24.1). Davi caiu no laço do engano, pensou que
fazendo o censo de toda a nação, Deus aprovaria a sua atitude. É bom
observarmos que foi depois de grandes vitórias e realizações de Davi, que o
diabo conseguiu essa brecha na vida do rei.
No capítulo 21.7 diz assim: “ E esse negócio também pareceu mal aos olhos de
Deus, pelo que feriu a Israel”. É provável que o povo aprovasse o desejo
pecaminoso de Davi, de recensear o povo. O orgulho, visto como erro, foi
visto até pelo insensível Joabe que percebera que esse censo do povo era um
grande pecado que envolveria todo o Israel na culpa. E aconteceu o
inevitável: o povo ficou tomado de um espírito de orgulho nacional, e
acabaram também participando do pecado de Davi, ficando todo o povo sujeito
também ao castigo.
Ao numerar o povo, ele estava procurando exaltar a sua própria pessoa e o
poderio militar da nação de Israel, e de depender unicamente desse poderio.
Tal presunção inevitavelmente torna a pessoa autoconfiante, tomada de
superioridade e vivendo sem fé e sem humildade. Davi deveria se lembrar de
que todas as vitórias de Israel vieram pela mão do Senhor. De igual modo, o
crente nunca deve se gloriar em sua própria grandeza no reino de Deus, mas
nas suas próprias fraquezas.
Em I Cr. 21.11 O profeta Gade transmite uma ordem inusitada de Deus; Davi
deveria escolher sua própria punição (vs.9-13). Davi escolhe uma praga e Deus
envia uma peste a toda Israel, ocasionando a morte de cerca de setenta mil
homens! Há um fato interessante que não podemos deixar de destacar nesse
episódio. Ainda em I Cr. 21.13 Davi diz ao profeta Gade: “Estou em grande
angústia; caia eu, pois nas mãos do Senhor, porque são muitíssimas as suas
misericórdias; mas que eu não caia nas mãos dos homens”.
Davi estava emocionalmente comovido pelo sofrimento do seu povo, mas também
tinha o desejo de agir em favor deles. Davi sabia que Deus poderia perdoá-lo
por toda a sua transgressão. Agora, seu coração reconhece que Deus é quem
merecia todos os privilégios das suas conquistas. Ele era limitado, Deus
não!. Os resultados do orgulho serão sempre dramáticos (Pv.29.23).
O Senhor é um Deus que pode se compadecer, mesmo daqueles que merecem ser
castigados. Por causa do seu amor, misericórdia e compaixão, Deus pode
abreviar ou até mesmo cancelar um castigo que Ele ia aplicar.
O QUINTO GIGANTE: A TRAIÇÃO.
A traição é baseada na mentira. É um dos piores, senão o pior golpe que
alguém pode receber de um amigo ou de uma pessoa que se considera ou que se
ama. Traição pode ser entendido como deslealdade, desapontamento da
expectativa de alguém: é desvendar os segredos de outrem, entregar um amigo
aos seus inimigos; é também decepcionar um amigo além de ser contada como
engano, infidelidade, perfídia e desonestidade.
A traição fere muito porque vem sempre de alguém em quem se deposita
confiança. Parece que, em consequência desse fato, torna-se mais difícil
perdoar uma traição do que outra qualquer afronta. Um fato que ilustra muito
bem está registrado no Salmo 55. Davi orava pedindo ao Senhor socorro e fazia
um relatório da situação em que se encontrava a cidade de Jerusalém.
Mesmo vivendo aquela situação de tortura, crimes e maldades sem limites, o
que mais feria Davi e abalou o seu estado emocional, foi a traição de seu
filho mais querido: Absalão (Sl.55.12-15). A traição foi deveras um golpe
muito forte para Davi. Homem acostumado a enfrentar inimigos valentes e
sempre sair vencedor, agora se depara com outra espécie bem diferente de
inimigo. Seu próprio filho o traia!
No coração de Absalão nasceu um ódio, um rancor exagerado, que passa agora a
fazer parte de suas manobras. Um filho rebelde, insubmisso, violento, que por
causa de suas atitudes erradas, se distancia de seu amado pai. Ele já não tem
mais como ficar na presença de seu pai. Matou o próprio irmão, fugiu, então
passa dois anos distante de todos, e quando volta é para difamar seu pai. O
capítulo 15 de 2 Sm, nos informa que Absalão começa a maquinar a derrubada do
rei. Reunia seus homens e ficava na porta da cidade abordando as pessoas que
vinham à Jerusalém buscar auxílio do rei para as suas necessidades. Dizia às
pessoas: “se eu fosse o rei não deixaria você nessa situação”.
Ele foi destruindo a imagem que o pai construíra em 40 anos de monarquia. Seu
propósito era semear inimizade por onde passava. Davi não conseguiu fazer as
pazes com seu filho Absalão, de modo que, tempos depois seu filho acabou
morrendo vergonhosamente pendurado num carvalho com o seu exército
desbaratado.
Sabemos que Davi como rei, obteve sucesso em tudo que fazia. A Bíblia
está cheia de relatos vitoriosos da vida desse homem, que alcançou êxito como
pastor de ovelhas, escudeiro do rei Saul, matou o gigante Golias, derrotou os
filisteus, os amalequitas, expandiu o território de Israel cerca de dez vezes
mais, reorganizou o exército, contribuiu com a construção do Templo, enfim
conseguiu feitos extraordinários em todo o Israel. Davi exigiu de si mesmo
inúmeras realizações que o deixaram no topo das atenções. Todavia, nem sempre
o sucesso é tudo na vida. Ao descuidar-se de outras áreas importantes da sua
vida, acabou fracassando na sua área familiar.
Ficamos pensando em histórias não muito felizes como essa, acontecendo pelos
quatro cantos do mundo. É fácil vermos isso na igreja atual, muita gente
convertida, comprometendo-se a mudar, mas que na verdade, dificilmente mudam
o seu caráter. Frequentam igrejas poderosas, mas não abandonam a mentira,
praticam o adultério, cobiçam cargos na igreja, fazem fofocas, escandalizam,
enganam, e não oram quando são tentados.
Nessas áreas, parece que já não há mais o temor de Deus, e quando se perde o
temor de Deus, passamos a ouvir a voz do diabo. A Bíblia mostra toda a vida
de Davi, nada é empurrado para “debaixo do tapete”. Possamos então nos alerta
sobre esses enganos, e refletirmos sobre os erros que tiveram os grandes
homens de Deus, reis e profetas, e aprendermos que esses desacertos, de nada
servem para o povo de Deus!.
Devemos sim, sermos verdadeiras ovelhas de Jesus. Em Efésios 5.1, Paulo
escreveu muito bem dizendo: “Sede, pois imitadores de Deus, como filhos
amados”. Significa que devemos rejeitar decisivamente todos os tipos de
impurezas aqui na terra. É preciso que haja uma visível diferença entre o
estilo de vida do cristão com os que são desse mundo. Afinal de contas, se não
formos imitadores de Deus, imitaremos a quem?
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